Bem-vindos ao meu cantinho
Sempre que posso, venho cá dar um saltinho e apresento as minhas opiniões relativamente aos livros que vou lendo e às várias formas de arte. Se também estiverem interessados, podem acompanhar alguns dos meus projectos pessoais na área das artes plásticas e não só.
Se gostarem (ou detestarem...tanto faz), não se esqueçam de deixar comentário! =P

28 janeiro, 2010

Cão Como Nós - Manuel Alegre

Desafio quem o ler a não ficar emocionado. Chama-se Cão Como Nós e é do autor português Manuel Alegre.
Este livro tem gravada nas suas páginas uma pequena homenagem a um cão muito especial. Kurica foi o nome dado ao epagneul-breton, um cão que não era como os outros, mas que era cão como nós.
Para os mais pequenos da família Kurica era um irmão, para o narrador porém, o cão não passava de um cão e por isso sempre insistiu na relação de dono para cão. Cão é cão. Mas quem é que o convencia? – diz constantemente o narrador. Ele mesmo admitia que havia naquele bicho singularidades que não eram próprias de um cão.
Ao longo do livro são-nos descritas as relações do narrador com o epagneul-breton que mesmo depois de este morrer o continua a sentir, como se de facto ele continuasse a fazer parte do seu dia-a-dia, mas como um ser invisível. Saudade ou mera imaginação, o narrador sente a presença do cão em momentos que invocam um passado do qual Kurica fazia parte. Os passeios no jardim, as idas à caça e à praia… Kurica impõe-se em todos os instantes fazendo sentir a sua alma (alma sim, porque não?).

É um livro pequeno que se lê muito rapidamente. Só para dar uma noção eu peguei nele e mais ou menos duas horas depois já o tinha acabado. A narrativa é espontânea, leve e com um cheirinho de poesia que nos atrai para a realidade de um cão que não era cão, mas que o era como nós.


17 janeiro, 2010

Sismo no Haiti

Não escrevo aqui há algum tempito… desde o ano passado, para ser precisa (problemas com a internet). Agora que aqui estou, faço-vos um apelo dedicado.

Todos sabemos da catástrofe que se abateu sobre o Haiti no dia 13 de Janeiro. O sismo de 7.0 na escala de Richter abalou sobretudo a capital Port-au-Prince e deixou um rasto de destruição que dificilmente será esquecido.

O país que só por si enfrenta graves problemas causados pela pobreza e pela forte instabilidade política e económica tenta agora fazer frente às consequências deste sismo devastador.

Felizmente muitos países se uniram para prestar ajuda humanitária à população haitiana, através de associações como a Ami, os Médicos sem Fronteiras, a Unicef e a Cruz Vermelha entre outras.

Já passaram alguns dias desde o sismo, mas existem muitas pessoas subterradas nos escombros à espera que as salvem, existem muitas outras gravemente feridas, que não têm água nem comida, mas apenas uma dor na alma deixada por todos aqueles que perderam.

São URGENTEMENTE necessários fundos para que a população tenha acesso a água potável, mantimentos, artigos de saúde, abrigos temporários e outros bens básicos.

POR FAVOR, se poderes AJUDAR, não deixes de o fazer. Podes contribuir com aproximadamente 0.70€ e tudo o que tens de fazer é ligar para o 760206206. O dinheiro da chamada reverte para as associações acima referidas. Existem claro outras formas de ajudares, só tens de procurar nos sites das associações de ajuda humanitária. Não esqueças que todos juntos podemos resgatar muitas vidas.

Se não poderes contribuir, passa a palavra. Podes fazer com que outros possam auxiliar.

De qualquer das formas, tenho a certeza que o povo haitiano agradece a tua ajuda. =)

17 dezembro, 2009

Sismo sentido em Portugal

O Instituto de Metereologia registou 16 réplicas do sismo desta madrugada (01:37h), e diz ter sido o maior dos ultimos 40anos.

O sismo ocorreu no Oceano Atlântico a cerca de 30 km de profundidade e a cerca de 100 km a sudoeste do Cabo de S.Vicente, no Algarve. Apesar da forte intensidade (6.1 na escala de Richter e 5.0 na escala de Mercalli), o sismo "não causou estragos, nem danificou estruturas", diz Adérito Serrão do Instituto de Metereologia.

Apesar de não ter sido sentido na Madeira, no território continental fizeram-se sentir réplicas que variaram entre 1.3 e 2.3 na escala de Richter. Na vizinha Espanha o susto também foi grande, sendo que o sismo também chegou até lá e inclusive até Marrocos.

O sismo teve a duração de alguns minutos, mas apenas foi sentido pelas pessoas durante 5 a 10 segundos.

Eu, pessoalmente, nunca tinha sentido nenhum e a primeira coisa que me apercebi foi de um barulho ao longe. Depois, senti tudo a abanar: primeiro as portas, depois a secretária e a estante do meu quarto deram testemunha do acontecimento e por fim, senti nitidamente o chão a tremer. Só tive tempo de pensar «Oh meu Deus!». Depois, tão depressa como começou, acabou.

Enfim, não é bonito de se sentir na pele. Imagino as pessoas que já estiveram realmente perto do epicentro de um sismo de grande intensidade.

Tudo o que sei, é que o resto da noite foi passada com a minha mana a melgar-me com histórias do Apocalipse, 2012 e afins...

09 dezembro, 2009

Os teus pés vesgos - Lena Maltez

Neste Portugal pequenino existem grandes artistas. Lena Maltez, constitui parte indubitavel dessa grossa lista. Ponham-se os olhos neste poema da autora e contemple-se a arte sublime:

os teus pés vesgos

entrou na porta de costas
descalço, com os pés vesgos
descia carregando medos,
as escadas suspensas em redes.
com visão lenta petrificava o espaço
e, das vidraças retratavam as sombras
do lado de lá, da porta ao lado.
encontrou o anoitecer sem horas,
velas ardiam pela casa,
como astros em campo nu
a claridade existia dentro do tempo.
passeou a memória,
sem excessos
recordou como se movia o mar
e com os dois pés esquerdos
caminhou sobre cal caída das paredes
sujas de palavras.

de dentro sangrava
o fascínio de saber sonhar

08 dezembro, 2009

Prima Ballerina - Edgar Degas

Título: Prima Ballerina;
Técnica: pastel;
Ano: c.1876
Dimensões reais: 58 x 42 cm;
Local onde se encontra exposto: Musée d'Orsay, Paris

Edgar Degas mostra que os retratos, mesmo sendo formas aprentemente simpes de pintura, podem ser grandes fotografias e, mesmo fora do universo do retrato, as cenas quotidianas que pintou, não deram à luz uma pintura banal. A obra Prima Ballerina de Degas é o exemplo e uma boa fotografia: representa uma cena quotidiana (um espetáculo de ballet) em que é retratada uma dançarina, que o artista pintou num enquadramento de grande plano geral, visivelmente influenciado pela descoberta da máquina fotográfica.

Toda a obra apresenta uma tonalidade de castanhos e azuis, em tons levemente sóbrios, enquanto é conferida à figura central da imagem grande destaque pela maior definição das suas formas (desmaterializadas e cheias de brilhos e transparências) e maior contraste das suas cores (puras, directamente aplicadas na tela) em relação ao fundo, uma vez que a bailarina aparece mais "cintilante", exaltando uma soberba claridade, a qual não recai sobre o resto da composição. É essa iluminação que atrai o olhar do observador para esse primeiro plano, criando um percurso e leitura que sai da bailarina e se dirige para o fundo, passando pelo cenário, como um todo. É notório o uso frequente de linhas diagonais na composição, grande característica de Degas - confere à pintura um dinamismo que, aliado ao sentido do traçado, rápido, solto e expontâneo, dá a clara sensação de movimento luminoso da personagem, característica tão típica do Impressionismo. A bailarina de cara doce e delicada, que rodopia leve, nas suas formas suaves e subtis, faz lembrar um anjo que foi magicamente transportado para a tela e que lá permanece num eterno instante luminoso, emanando o seu brilho sublime que ofusca o olhar de qualquer um.

Edgar Degas desperta no observador atento dos seus quadros uma forte paixão, principalmente devido ao facto do artista conjugar num todo duas grandes formas de arte: a pintura e a fotografia, cumplices evidentes do Impressionismo. Os cortes arrojados das suas composições e os ângulos invulgares da sua perspectiva são tão inovadores, que nos fazem por vezes, excluir muitos outros grandes artistas da mesma época. Contudo, e apesar dos seus trabalhos deixarem transparecer a objectividade da câmara fotográfica, Edgar Degas não esqueceu o clima de fantasia que alguns dos seus quadros proporcionam, como é exemplo a Prima Ballerina, considerada uma obra fundamental à compreensão essencial do artista.